terça-feira, 10 de dezembro de 2019

Em parceria com Arcelor, PROAC e Núcleo de Cinema de Campinas, um grupo de alunos da EE. JARDIM ALINE - Hortolândia/SP - produziu 100% um vídeo abordando a questão do machismo. O vídeo foi a cerejinha do bolo de uma oficina de criação de curtas ocorrida na escola durante o mês de novembro. Em breve o vídeo estará disponível neste blog.


domingo, 1 de dezembro de 2019

Coral de crianças abrilhantado o evento em São João da Boa Vista/SP.

VOVÓ E O PASSARINHO
                                                           Sebaferreira

Parada diante da janela, a palma da mão estendida com os cincos dedos abertos contra gotas d’água que escorrem pelo vidro, vovó ausculta os ruí­dos do quintal. A figura da avó ali na janela, sem palavra ou gesto, apenas olhando, apressa a neta a ir se arrumar, a mãe vem visitá-la.
O gosto de olhar-se no espelho e encontrar-se com a beleza diferente da mulher que amadurece muito cedo murchava feito as flores que estampavam o vestido longo à espera no cabide. À vaidade feminina sobrepunha as agulhadas de uma ferida ainda aberta: a cama da própria mãe, o choro agoniado, a avó, surgindo feito uma flecha, a luta da senhorinha contra o padrasto bruto, o abuso não consumado, o murro dele em cima dos olhos da nona que a deixara quase cega, a fuga do criminoso e sua posterior prisão. A infância salva pelas mãos macias de uma avó que a arrancara das garras do animal. Que difícil arrumar na cabeça os cacos que restavam da imagem da mãe! A menina não vai trocar de roupa nem se embelezar.
— Que ave gritona!
neta ameaça ir lá fora.
— Deixe-a, deixe-a, a avó a detém. Está procurando o filhote. Deve ter caído do ninho ontem, pois ouvi barulho. Voou até ficar escuro. É tocante. Hoje ela voltou a procurar pelo filhote desde cedo.
— Vovó, só de ouvir o barulho do pássaro, a senhora é capaz de descrever a cena em detalhes.
A avó mal conseguia enxergar. A neta tinha que lhe entregar nas mãos a caneca de leite e o pedaço de bolo de chocolate. Locomovia-se pela casa, que conhecia bem, mas não podia sair sozinha ao quintal.
A neta termina de lavar a louça do café.
Ela não se afasta daquele lugar, o filhote deve estar por perto. Ah! A fragilidade da vida.
A neta se aproxima da janela que emoldura a chuva miúda, tão fina que só pode ser percebida quando se olha contra os pálidos raios de sol. O filhote pia entre os arbustos chamando pela proteção da mãe, um graúdo pica-pau da cabeça vermelha. O bicho gira sem parar o pescoço à procura de sua cria.  De repente, bate asas e pousa rente ao alpendre, guiado pelos pios que o chamam. Vem aos pulinhos, olhando para os lados, desconfiado. O filhote responde, balançando as asas como se quisesse voar, ou andar para a frente em passos incertos. Tropeça, quase caindo. A mãe, cautelosa, oferece-lhe aconchego. O filhote sacode a cabeça, estremece as asas abertas, abre o bico e recebe o alimento, uma larva, talvez, arrancada à bicadas de oco de pau que regurgita para matar a fome da cria.
Toca a campainha.
A neta quer ir atender.
—Não abra a porta, não abra a porta, a avó a segura pelo braço. A sua mãe vem em busca de dinheiro para saldar a dívida com o advogado que soltou aquele homem promíscuo da cadeia. Nunca, nunca.
Puxa a neta para frente da janela e se posta atrás dela. As duas abrem os braços e entrelaçam as mãos. Fecham os olhos. Desatam a rir embaladas pela cantoria de tantos pássaros coloridos em revoada pelo quintal.




sábado, 30 de novembro de 2019

Cerimônia de premiação dos vencedores do 27º Concurso Poesia e Prosa, promovido pela Academia de Letras de São João da Boa Vista/SP.Na oportunidade estive presente em vista do conto de minha autoria: "Vovó e Passarinho" ter se classificado em 3º lugar dentro de sua categoria.